Globo Repórter 03/06/2022 – Programa visita paraísos ameaçados pelo desequilíbrio ambiental

“No futuro, a guerra será entre os que defendem a natureza e os que a destroem e a Amazônia vai ficar no olho do furacão’”. Essa declaração foi dada pelo explorador Jacques Cousteau, durante a coletiva de imprensa da Rio-92. E entre os jornalistas que cobriam o evento estava a então jovem repórter Bette Lucchese, na primeira grande cobertura da sua carreira. “Era uma menina e foi impactante ver centenas de chefes de Estado reunidos. Passamos a usar expressões que eram desconhecidas da grande maioria até então. Foi como colocar um holofote nesses problemas”, relembra a jornalista. Trinta anos depois, Bette Lucchese pôde ver de perto algumas das previsões feitas no evento e divide a experiência com o público no ‘Globo Repórter’ desta sexta-feira, dia 3 de junho.
“A destruição da Floresta já altera as chuvas na Amazônia, muda o clima em muitas regiões do país, mexe com um sistema que a natureza criou para equilibrar o planeta”, explica Bette, no programa, que convida à reflexão ao mostrar que um dos principais alertas feito por especialistas na época da Rio-92 não foi ouvido. As consequências do aquecimento global se tornaram realidade e três paraísos naturais brasileiros estão ameaçados de desaparecer.
No Delta do Parnaíba, que faz divisa com os estados do Maranhão e do Piauí, o repórter Renan Nunes mostra como o avanço do mar põe em risco o único delta em mar aberto das Américas. “As águas sobem três centímetros por ano e já engoliram dois quilômetros e meio do Delta do Parnaíba, oferecendo um grave risco para os manguezais. E o mangue é uma grande arma contra o aquecimento global”, explica o repórter.
Do lado maranhense, a Ilha das Canárias é a maior do Delta. Segundo o Sr. Hélio, morador da região, em 1978 havia 83 ilhas, dez a mais do que hoje. “O medo é grande, a maré vai invadindo e a gente está afastando”, contou ele, que visita ainda no município de Gilbués, no Piauí, região que está se transformando num deserto brasileiro. Uma terra maltratada pela pecuária, pela mineração de diamantes e por ter sido ocupada por engenhos.
Já o repórter Mario Bonella vai para o litoral norte do Espírito Santo, onde o aumento das temperaturas está atingindo diretamente um ser vivo, que está mudando de cor. “Quando o coral fica branco, vai mudando de cor, é sinal de que ele está doente. À medida em que a situação fica mais grave, a textura também muda. Quando ele está áspero, parece uma rocha e é sinal de que ele já morreu”, explica.
O jornalista também encontrou às margens do Rio Piraque Mirim, em Aracruz (ES), um cenário ainda mais desolador: um mangue completamente devastado por uma tempestade provocada pelo El Nino, que fez chover granizo no local, e destruiu uma área de aproximadamente 500 campos de futebol. “É um sentimento ruim, de tristeza mesmo chegar perto de um ecossistema destruído, ainda mais um manguezal, um lugar que a gente sempre ouviu que é um berçário, lugar onde a vida começa e aqui está parecendo um cemitério”.
Mas nem tudo é devastação. Na Amazônia, Bette Lucchese também conhece a jovem Marisa, que aos 8 anos já nadava com os botos e se tornou a guardiã deles. Graças a ela, na região de Novo Airão (AM), porta de entrada para o Parque Nacional das Anavilhanas, no Rio Negro, são proibidos os mergulhos com os botos. “As pessoas não respeitavam, queriam subir, agarrar, segurar, montar, dominar”, defende.

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