|“Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade”.
CENA 01. PENSÃO DA DALVA. SALA. INTERIOR. DIA:
Imaculada, Dalva, Ivan, Zeca e Zequinha comem vendo tv. Maria e Tales à parte. Batem na porta. Zequinha vai atender segurando o prato de comida. É a Lúcia.
ZEQUINHA – Laura?!
LÚCIA – Eu estou de volta.
ZEQUINHA – Eu sabia que você estava viva. Eu sabia!
Dalva levanta e se aproxima do Zequinha.
DALVA – Entra e nos explica bem toda essa história. A gente ficou muito preocupado com o seu sumiço. Não encontramos o corpo e…
LÚCIA – Eu soube da história, dona Dalva.
Dalva e Zequinha se afastam. Lúcia entra e os três se sentam. Ivan dá um abraço da Lúcia e um beijo da Dalva. E sai.
DALVA – Eu já mandei você parar de me chamar de dona. E conte logo essa história porque estamos morrendo de curiosidade.
LÚCIA – Eu estava no Parque com o Zeca e ele foi comprar água. Um homem apareceu ao meu lado com um arma e disse para eu ir andando. Eu fui. Ele ia me… (pausa), mas ele ouviu um grito e foi embora.
ZECA – Eu andei tudo, Laura. E eu não encontrei sinal nenhum de homem ou sua. O que aconteceu?
LÚCIA – Eu sai andando, não conhecia o Parque. Fiquei confusa. Eu pedi ajuda pra um senhor e ele me levou pro lado de fora, e nenhum táxi parava. Eu fui andando, andando até achar um hotel e acabei ficando por lá.
DALVA – E porque você não pegou um táxi e voltou? Nós morremos de preocupação! Fizemos até um enterro.
LÚCIA – Eu sei, eu sei. E eu peço desculpas, mas eu fiquei tão envergonhada e… Mil desculpas, mas eu não sabia como agir e eu só tomei coragem de vir porque eu soube do enterro.
ZECA – Você está perdoada, mas só não faça isso direito. Agora temos um monte de papelada pra dizer que você não está morta.
LÚCIA – Desculpa mesmo, gente.
Dalva, Zeca e Zequinha levantam e a abraçam. Maria e Tales se entreolham à parte. Imaculada encara a Lúcia.
CENA 02. BAR. INTERIOR. DIA:
Ivan entra no bar e se senta em frente a um homem de estatura mediana, branco e com cabelos grandes.
IVAN – O que você quer, Carlos?
CARLOS – Você está devendo, meu amigo. E disse pra nós que iria conseguir o dinheiro. Cadê?
IVAN – Eu ainda não tive tempo de vender, quer dizer, eu ia vender ontem. Mas, o cara desmarcou.
CARLOS – Vender o que, Ivan?
IVAN – Uma aliança de ouro, a aliança da minha mulher. Eu vou vender ainda hoje e te dou o dinheiro.
CARLOS – Porra nenhuma! Eu quero a aliança e eu vou vendê-la. Ah e dê um beijo na sua mulher, coitada dela… Ela não te merece!
Ivan entrega a aliança e sai. Carlos pega e a encara, rindo.
CENA 03. SEDE DA MUJER. SALA DA MARILDA. INTERIOR. DIA:
Laura e Marilda estão sentadas lado a lado. Marilda segura um livro de fotografia e as mostras pra Laura.
MARILDA – Sua festa vai ser maravilhosa, filha. São 19 anos, uma idade super especial! Pensei em cavalos, o que acha?
LAURA – Eu não quero cavalos, penas de faisão e nem nada disso. Eu nem quero comemorar nesse dia.
MARILDA – Como assim, Lúcia? Esse é o seu aniversário!
LAURA – Esse é o aniversário que a Elvira criou. Eu nasci antes e quero comemorar no dia certo, mãe.
MARILDA – O seu pedido é uma ordem, filha. Eu vou ver as coisas com a minha secretária e depois lhe falo. Agora eu preciso lhe dá com duas coisas: a demissão da Helena e a viagem pra Holambra.
LAURA – Pensa bem nisso da Helena. Nós não precisamos de um processo agora, mãe. Não acho certo demiti-la.
MARILDA – Corrigindo: não vou demitir, eu vou afastá-la por invalidez. Eu não quero uma mulher careca e doente numa revista que fala sobre moda, beleza e saúde.
LAURA – Existem modelos carecas, mãe.
MARILDA – Mas elas não estão morrendo.
Laura levanta e Gael entra na sala. Eles se entreolham. Gael entrega um cartaz pra Marilda e ela sorri.
GAEL – Está ai o cronograma pra Holambra. Você está diferente, Lúcia. Mas iluminada, eu acho.
Ela sorri e sai. Gael vai atrás.
CENA 04. PENSÃO DA DALVA. SUÍTE DO TALES. INTERIOR. DIA:
Maria e Tales entram no quarto. A primeira senta na cama e encara o Tales. Ele senta ao seu lado.
MARIA – Que merda você fez? Ela deveria ter sumido, Tales. A Marilda vai te destruir, vai pôr você na cadeia.
TALES – Se eu for, ela também vai. Não se esqueça que nós temos provas contra ela, nós não destruímos aquela gravação.
MARIA – E nem ela, a filmagem. O importante agora é ter certeza que a Laura não vai ir atrás da Marilda de novo.
Tales concorda e deita na cama. Maria idem.
CENA 05. BOATE SEXUS. SALÃO. INTERIOR. DIA:
Andréia está sentada no palco ao lado de uma stripper. Zeca entra e caminha até ela. A garota sai e ele senta ao seu lado.
ZECA – É trabalhando aqui que você pretende conseguir respeito?
ANDRÉIA – Eu não faço programa, Zeca. Eu trabalho na contabilidade.
ZECA – Eu vim aqui para lhe avisar pra ficar longe do meu filho. Ou eu vou entrar com um processo.
ANDRÉIA – Que ótimo você dizer a palavra processo, porque é essa a minha ideia. Eu tenho direitos Zé! Ele é o meu filho!
ZECA – (ri) Depois de 10 anos sumida você quer pagar de mãe. Enquanto você estava no bem-bom com o espanhol, não liga pra sua mãe e nem pro seu filho.
ANDRÉIA – Eu errei e sei disso. Eu só quero recomeçar, por favor. Deixa eu ver o meu filho.
ZECA – Não.
ANDRÉIA – Ótimo, eu vou entrar com o processo de guarda.
ZECA – Que bom. Boa sorte, Andréia.
CENA 06. SEDE DA MUJER. CORREDOR. INTERIOR. DIA:
Helena sai do elevador e caminha até a secretária da Marilda. Nesse momento, Marilda sai da sala.
MARILDA – Eu vou ser breve, Helena: decidi afastar você por invalidez.
HELENA – Por favor, não faz isso. Eu quero tanto continuar trabalhando.
MARILDA – Eu sinto muito, Heleninha. Mas eu não quero que você fique desmaiando pelos corredores da minha revista.
HELENA – Eu não tenho tido desmaios, Marilda. Por favor, não me afaste. Eu preciso me manter ocupada.
MARILDA – Eu sinto muito, fofa. Mas eu preciso me precaver e isso é pro seu bem também. Por favor, pegue suas coisas e se retire.
HELENA – Por favor…
MARILDA – (corta) Nem comece a chorar! Ódio dessas pessoas que começam a chorar por nada. E quer se manter ocupada? Escreva um livro autobiográfico. É ótimo pra pessoas prestes a morrer e está na moda.
Ela manda um beijo e entra na sala de novo. Helena começa a chorar e sai correndo. A secretária vai atrás.
CENA 07. SEDE DA MUJER. PÁTIO. INTERIOR. DIA:
Helena sai do elevador e caminha até o Leandro que conversava com o Juliano. Ela chora.
LEANDRO – Nós precisamos conversar sobre Holambra e (pausa) O que aconteceu, Helena? Você está péssima.
HELENA – (chorosa) Ela me afastou! Ela disse que eu iria desmaiar nos corredores. Mas eu não tenho desmaiado.
LEANDRO – Eu sei, meu amor. Isso não vai ficar assim, Helena. Nós vamos conversar com ela, ela vai voltar atrás.
JULIANO – Direito do trabalhador, Helena.
HELENA – (chorosa) Nenhum Juiz vai ficar do meu lado. Quer dizer, eu estou doente. Estou fraca e posso desmaiar, sangrar ou qualquer outra coisa nesse período.
JULIANO – Não vamos deixar você ficar parada.
LEANDRO – Vem pra Holambra com a gente.
HELENA – Não dá. Eu preciso fazer a fisioterapia, preciso ficar aqui. E obrigada gente… Vocês são ótimos!
JULIANO – Eu sei, eu sei.
Os três se abraçam, emocionados.
CENA 08. PENSÃO DA DALVA. SUÍTE MARTINS. INTERIOR. DIA:
Dalva entra no quarto com a Imaculada. Elas começam a olhar o chão e procurando no chão do quarto.
DALVA – Eu perdi essa aliança e o Ivan ainda não reparou. Mas ele vai perceber e vai dá merda.
IMACULADA – Eu já disse que essa aliança não está aqui.
DALVA – Para de ser pessimista.
IMACULADA – Eu sei que não está aqui, não está nem nessa pensão.
DALVA – Será? Será que eu perdi na rua? Puta que pariu! Ele vai me matar e com razão. Como eu fui perder isso?
Ela senta na cama e Imaculada também. Dalva pega a calça do Ivan e pega uma nota de cem do bolso.
IMACULADA – Onde ele arranjou esse dinheiro?
DALVA – Eu acho que tenho o meu palpite e se eu tiver certa, eu não tenho culpa do sumiço do anel.
Elas se entreolham.
CENA 09. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA-NOITE:
Imagens de São Paulo anoitecendo. Pessoas e carros indo e vindo a todo instante.
CENA 10. BOATE SEXUS. ESCRITÓRIO. INTERIOR. NOITE:
Gael entra no escritório e Andréia entra atrás. Ele se senta na sua cadeira de couro e ela permanece em pé.
GAEL – Boa noite, Carlota.
ANDRÉIA – Isso já faz semanas! O assunto é sério, Gael: ele veio aqui hoje e me pediu pra ficar longe do Zequinha. E eu recusei e ainda disse que iria pedir a guarda dele.
GAEL – Nem fale, deixe-me dizer: você precisa de dinheiro e o seu trabalho de Irina não dá pra pagar. (sorri) Finalmente você se rendeu.
ANDRÉIA – Eu topo fazer programa, mas eu vou escolher os caras e não pense que não quero continuar a fazer a contabilidade. Ser prostituta é temporário.
GAEL – Trato feito, Ashley.
ANDRÉIA – Adorei esse nome.
Ela aperta a mão do Gael e sai.
CENA 11. MANSÃO MEDEIROS. SUÍTE DO CASAL. INTERIOR. NOITE:
Bed of Lies – Nicki Minaj feat. Skylar Grey
Helena está deitada na cama, mexendo no celular. Juliano entra e senta ao seu lado. Ele pega na mão dele e ela encosta no ombro dele.
HELENA – Eu achava que você não prestava e que iria fazer algo de mal pra mim. Mas acho que estou errada.
JULIANO – Ou talvez esteja certa e eu seja um assassino, mas você só vai saber quando eu matar você e o Leandro.
HELENA – (ri) Precisamos marcar o nosso shopping.
JULIANO – Já está marcado: amanhã depois do café.
Eles se abraçam e a CÂM mostra o Leandro olhando os dois, sério.
CENA 12. PENSÃO DA DALVA. CORREDOR. INTERIOR. NOITE:
Sonoplastia continua
Zeca caminha pelo corredor e para em frente ao quarto da Lúcia. Ele bate na porta e ela abre. Eles sorriem.
ZECA – Eu só passei pra dá boa noite.
LÚCIA – Boa noite.
ZECA – Na verdade não foi só isso. Eu passei pra perguntar uma coisa: você poderia dar uma outra chance pra nós?
FIM DO CAPÍTULO
| Linha de Sangue – Seg à Sex – 21h15