|“Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade”.
CENA 01. SEDE DA MUJER. SALA DA LÚCIA. INTERIOR. DIA:
Legenda: DIAS DEPOIS…
Marilda entra na sala e encontra a filha sentada numa cadeira de couro e mexendo no computador. Marilda se aproxima.
MARILDA – É tão bom ver que está de volta. É tão bom saber que superou a morte da outra.
LÚCIA – A outra tem nome mãe e ela é a minha irmã! (pausa) E ela não morreu, eu sei.
MARILDA – Vai querer discutir com as autoridades? Se disseram que ninguém a viu, que ela virou pó, é porque alguém a botou num saco e a deu pra um jacaré.
LÚCIA – Mãe! Eu odeio quando fala essas coisas… Eu não quero brigar contigo, saía por favor.
MARILDA – Eu já estou indo e saiba que não queria lhe magoar. A mamãe só diz a verdade e você sabe disso.
Ela manda um beijo e sai. Lúcia bufa e volta a se concentrar no computador.
CENA 02. MANSÃO MEDEIROS. SUÍTE PRINCIPAL. INTERIOR. DIA:
Helena está deitada na cama. Leandro entra no quarto e senta ao seu lado.
LEANDRO – Ponha uma toquinha quando for deitar. É muito cabelo pra pouca cama.
HELENA – Desculpe.
LEANDRO – (suspira) Eu só estou tentando fazer piadinhas e você sabe que eu sou péssimo nisso.
HELENA – Ele está voltando e dessa vez é pior. Porra! Eu tô ficando feia de novo e além disso, eu corro o risco de/
LEANDRO – (corta) Cala a boca!
Ele se levanta e sai do quarto batendo porta.
CENA 03. ESTRADA. EXTERIOR. DIA:
Um carro para no acostamento e dele sai um par de pernas femininas. CÂM sobe e mostra a Laura de cabelos curtos, nos ombros. Ela encosta no carro e pega o celular, faz uma ligação e o põe no ouvido.
LAURA – Ima, que saudades.
IMACULADA – (off) Quem é?
LAURA – É a Laura, querida.
IMACULADA – (off) Eu sabia que estava viva. Eu sabia, eu sentia. Onde você está?
LAURA – Agora numa estrada, mas quero que me encontre num hotel que tem aqui perto. Pega o papel e a caneta. E por favor, não comente com ninguém.
IMACULADA – (off) É claro, Laurinha. Nem ao maior confidente: o travesseiro.
Ambas riem. Em off, Laura passa o endereço. Após, se despede e entra no carro. E sai cantando pneu.
CENA 04. BOATE SEXUS. ESCRITÓRIO. INTERIOR. DIA:
Gael e Andréia entram e sentam-se lado a lado. Ambos seguram em suas mãos um copo com uísque.
GAEL – Não achas que é cedo demais pra isso?
ANDRÉIA – Sabe o que minha mãe me dizia quando pequena? Ela dizia: “Nunca é cedo pra beber, trepar e fumar.”
GAEL – (ri) Acho que ela estava certa.
Eles brindam e bebem um gole.
GAEL – Já que é pra falar das novidades, eu começo… Eu descobri que ela era casada e que o marido era pobre. Nada mais.
ANDRÉIA – E as gêmeas?
GAEL – Não encontrei nenhum resquício da existência da Laura. A garota realmente virou pó. Mas descobri o nome da mãe delas: Débora. Trabalhava no campo.
ANDRÉIA – Nada sobre o possível assassino da Elvira?
GAEL – Nada. Na verdade, a única coisa que é realmente estranho nisso tudo é que o marido da Marilda sumiu.
ANDRÉIA – E se ela o matou, a Elvira descobriu e ela matou a Elvira. Queima de arquivo.
GAEL – Não dá. O marido da Marilda morreu quando a Elvira pegou a Lúcia e a Elvira só morreu quando a Lúcia já era uma menina. Porque ela demoraria tanto assim?
ANDRÉIA – Mas e se a Elvira só descobriu depois?
GAEL – Não teria porque a Marilda matar a Elvira anos depois. Nem enterro a pessoa teve. Não tem corpo, Andréia. E muito menos provas.
ANDRÉIA – Que droga! Eu realmente não sei o que pode ter acontecido com a Elvira.
GAEL – Eu também não, mas eu prometi e eu vou cumprir: eu vou achar o culpado.
Eles bebem mais um gole.
ANDRÉIA – Minha vez: eu estou tentando me aproximar do Zequinha. Eu vou na escola dele, o vejo entrar e sair. Eles já me viram lá, mas eu não vou desistir do meu filho porque o Zeca quer.
GAEL – Acho que precisa pôr ele na justiça. Precisa de trabalho, Andréia. Eu não quero lhe forçar, mas/
ANDRÉIA – (corta) Sem mais, Gael! Eu não sou puta e nem pretendo ser. E além do mais, eu quero fazer isso de forma honesta e sem briga que possa prejudicar o Zequinha.
Andréia termina o uísque e sai. Gael bufa e também termina a sua bebida.
CENA 05. RESTAURANTE. INTERIOR. DIA:
Numa mesa estão o Leandro e o Juliano conversando. A comida é servida e começam a se deliciar.
LEANDRO – Eu realmente não sei o que fazer para animá-la. Eu já tentei de tudo.
JULIANO – Tudo menos uma coisinha: leva-la as compras. Mulher é mulher sempre. Toda mulher gosta de se sentir amada, nova e feliz.
LEANDRO – Eu sou o fotógrafo, o estilista aqui é você. Acho que essa função deve ser sua.
JULIANO – Ótimo, eu ligo pra ela e peço pra me encontrar no shopping.
LEANDRO – Da outra vez foi mais fácil e mais rápido. A gente era recém-casado, tudo novo. Acho que ela se enjoou de mim.
JULIANO – Impossível. Mas você ainda não me contou os detalhes da outra vez. Eu sei o básico: você se casou com ela pra ganhar uma herança e ela descobriu o câncer.
LEANDRO – A herança era pouca, mas deu pra comprar aquela mansão e terminar meu curso. Mas o que me fez ficar falido foi o tratamento dela, eu fiz o possível e o impossível pra ela ficar boa logo.
JULIANO – (ri) Você merece o Prêmio Nobel da Paz. (com a boca cheia) Muitos a deixariam depois de pôr a mão no dinheiro.
LEANDRO – Eu a amo, Juh. Mas não é amor carnal, é amor de irmão. Sempre foi e ela sempre soube disso. Ela sempre soube do propósito desse casamento e ela me ajudou tanto que eu tive que ajudar também.
Juliano sorri e deixa o seu garfo pegar. Os dois se abaixam pra pegar e ao tocarem no garfo, suas mãos se tocam. Eles se encaram.
CENA 06. CLÍNICA. SALA. INTERIOR. DIA:
Helena está sentada numa cadeira com um saco de soro sendo ligada a sua veia. Ela chora e limpa suas lágrimas.
CENA 07. STOCK-SHOTS. EXTERIOR. DIA-NOITE:
Sonoplastia continua
Imagens de São Paulo anoitecendo. Pessoas e carros indo e vindo a todo instante.
CENA 08. HOTEL. QUARTO. INTERIOR. NOITE:
Sonoplastia off.
Laura está sentada na cama. Imaculada bate na porta e em seguida entra. Laura levanta e a abraça.
LAURA – É tão bom ver gente conhecida depois de dias me escondendo.
IMACULADA – Eu sempre soube que estava viva. Eu sentia isso, Laura. Mas o que aconteceu?
LAURA – A Marilda ela fez isso comigo. Ela mandou que o Tales me matasse, mas ele desistiu e me deixou fugir.
IMACULADA – E o que você pretende fazer?
LAURA – Agora que eu sei do que ela é capaz, é claro que eu vou salvar a minha irmã dela. Mas eu preciso de ajuda.
IMACULADA – É só dizer.
LAURA – Liga pra ela e marca o nosso encontro pra agora. Aqui mesmo no hotel.
Imaculada faz que sim. Ela pega o celular, faz ligação e o põe no ouvido.
IMACULADA – Eu preciso que me encontre nesse endereço. E vem rápido, é sobre sua irmã. Anota.
CENA 09. ESCOLA. EXTERIOR. NOITE:
Zequinha sai da escola e vai ao encontro do pai. Eles se abraçam. Ele olha pro lado e vê a Andréia o olhando. Ele corre até ela.
ZEQUINHA – Mamãe?!
ANDRÉIA – Meu filho.
ZEQUINHA – Porque você nunca fala comigo?
Ela começa a chorar e sai correndo. Zeca surge atrás dele. E encara o filho, bravo.
CENA 10. HOTEL. EXTERIOR. NOITE:
Lúcia salta do carro e olha pros cantos, e não acha a Imaculada. Ela encosta no carro e pega o celular. Laura surge atrás dela.
LAURA – Lúcia?!
Lúcia olha pra trás e vê a irmã. Tensão. Lúcia chora e se aproxima da mesma.
LÚCIA – Laura?!