|“Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade”.
CENA 01/MANSÃO CAMPOS MELO/SUÍTE DA MARILDA/INTERIOR/NOITE:
Marilda está deitada na cama, sonolenta. Tales entra e ela se assusta.
MARILDA – Que merda é essa? Quem você pensa que é?
TALES – Desculpe, mas eu preciso falar com você. É urgente!
MARILDA – Pode dizer, querido.
TALES – Eu ouvi a sua conversa com o Gael e eu não quero ouvir lorotas. Eu quero dinheiro, Marilda.
Marilda gargalha. Ela levanta e caminha até o Tales, rebolando. Ela o joga na parede e o encara.
MARILDA – Você mesmo disse que apenas ouviu, não posso fazer nada se você não tem prova.
TALES – E quem disse? Eu gravei tudo no meu celular, Marilda. (ele a encara) E não eu não vou te mostrar nada.
MARILDA – Ok. Odeio quando o aprendiz surpreende o mestre, mas não pense que pode tudo. Diga o seu preço.
TALES – Quero ganhar mais e a Maria também merece um aumento. E não queremos pouca coisa.
MARILDA – Então espere pelo aumento, querido. Boa noite.
Ela se afasta e abre a porta do quarto. Tales sorri e sai. Ela caminha até a cama e senta. Pega o telefone e disca uns números.
MARILDA – O Tales ouviu a nossa conversa e fez o seu preço. Não eu não quero que cuide dele, Gael. Ele está na minha mão e eu sei como cuidar dele.
Ela desliga e volta a se deitar.
CENA 02/STOCK-SHOTS/EXTERIOR/NOITE-DIA:
Imagens de São Paulo anoitecendo. Pessoas caminhando pelas ruas e carros indo e vindo.
CENA 03/CASA DO XERIFE/SALA/INTERIOR/DIA:
Bianca entra em casa com as compras. Ela olha pro marido e dá um sorriso amarelo. Ela põe as compras no chão e caminha até ele.
BIANCA – Victor, querido. Eu esqueci de comprar o leite. Você poderia ir?
VICTOR – Tem que ser agora? Eu estou…
BIANCA – (corta) Sim, Victor. Tem que ser agora! Eu estou cansada de ouvir esse áudio todo santo dia.
VICTOR – Ok, eu estou indo.
Ele levanta, pega a carteira e sai. Bianca senta no sofá e pega o seu celular.
BIANCA – Você não me conhece, mas conhece o meu marido. E ele tem algo que pode te destruir. Venha pegar comigo, dona Marilda.
CENA 04/PENSÃO MARTINS/SALA/INTERIOR/DIA:
Tales e Maria descem as escadas. Eles olham pros lados e se encaram.
MARIA – Acho que estamos sozinhos. E aí, o que ela disse?
TALES – Disse que vai nos dá aumento. Só isso… Acho que ela tá armando Maria.
MARIA – Se ela quisesse te matar, já teria matado. Você mesmo disse que a casa estava vazia, só com alguns seguranças.
TALES – É tem razão, mas e o Gael? Ele parece estranho, Maria.
MARIA – É só um empresário idiota. Deve comer na mão dela, fique mais atento com ela.
Tales concorda e sai. Maria vai atrás.
CENA 05/SEDE DA MUJER/SALA DA MARILDA/INTERIOR/DIA:
Lúcia está sentada, mexendo no computador. Gael entra e se aproxima dela.
GAEL – Você deve ser a Lúcia, né? Sua mãe nunca nos apresentou direito.
LÚCIA – Ela não quer que eu me envolva nos negócios, mas mesmo assim eu estou aqui.
GAEL – Sabe onde ela se meteu?
LÚCIA – Ela viajou pra Minas. Disse que volta rápido, e que precisava resolver coisas.
GAEL – Estranho, porque hoje é o dia de receber os possíveis novos funcionários e ela queria está envolvida.
LÚCIA – Se precisar de ajuda, estou aqui. É Gael, né?
Ele faz que sim com a cabeça. Ela levanta e derruba uns papeis no chão. Gael a ajuda. Eles se encaram.
GAEL – (ri) Sabe o que é estranho? Você é muito igual a uma criança que eu conheci um dia.
LÚCIA – Isso é impossível, quer dizer, eu passei minha vida em Passos. Só se você foi pra lá um dia.
GAEL – Passos, né? Acho que conheço sim.
Eles botam os papeis na mesa e se levantam. Lúcia sorri e sai. Gael sai, desconfiado.
CENA 06/PENSÃO MARTINS/FRENTE/EXTERIOR/DIA:
Laura sai e entra no táxi que já a esperava. Juliano sai correndo e entra no táxi.
JULIANO – Estou ansioso. Eles não chamariam pra dizer não, né?
LAURA – Eu também estou. Onde eu trabalhava antes não precisava mandar currículo, era só aparecer uma enxada.
Eles riem. O táxi sai cantando pneu.
CENA 07/HELIPORTO/EXTERIOR/DIA:
Marilda sai do helicóptero e entra num carro preto que a esperava.
MARILDA – (ao motorista) Você sabe aonde eu morava antes, né?
MOTORISTA – Sim senhora.
MARILDA – Então, vá mais além. Ultrapasse a linha do fim do mundo. Entraremos no Inferno, querido.
Ela sorri e o motorista concorda. O carro sai cantando pneu.
CENA 08/SEDE DA MUJER/PÁTIO/INTERIOR/DIA:
Laura e Juliano entram no pátio. Eles se encaram, sorrindo.
JULIANO – Acho melhor eu ir ao banheiro, antes de…
LAURA – (corta) Eu te espero, Juh.
Juliano sorri e sai. Ele anda um pouco, perdido. Ele esbarra no Leandro que cai.
JULIANO – Um trilhão de desculpas, eu juro que não tive. Eu…
LEANDRO – Tudo bem, eu estou bem. Só me ajude a me levantar, ok?
Juliano o ajuda, nervoso.
LEANDRO – Obrigado. Só não saia esbarrando em todo mundo. Posso saber o seu nome?
JULIANO – Juliano e o seu, pelo crachá, é Leandro. Prazer.
LEANDRO – O prazer é todo meu. Pelo que percebi está perdido, eu posso ajudar?
JULIANO – Estou à procura do banheiro, Leandro.
Leandro sorri e o ajuda.
CENA 09/PENSÃO MARTINS/SALA/INTERIOR/DIA:
Zequinha desce dois degraus da escada. Ele senta no degrau e brinca com um carrinho que segurava.
ZECA – (off) Filho! Vem aqui, agora. Me parece que você não fez o dever.
ZEQUINHA – Estou indo, pai.
Ele larga o carrinho na escada e volta a subir os degraus, rápido.
CENA 10/SEDE DA MUJER/SALA DA MARILDA/INTERIOR/DIA:
Lúcia se despede de uma mulher. Gael entra e sorri pra ela.
GAEL – Não é tão fácil quanto pensei. Agora só falta dois: Laura que não deixou foto e Juliano que é bonitinho.
LÚCIA – Eu fico com a Laura, coitada ela deve ser feia.
GAEL – Se fossemos escolher por beleza, nós estaríamos fodidos.
Eles riem. Gael sai, batendo porta. Lúcia senta na cadeira e pega o telefone.
LÚCIA – Manda a Laura entrar.
SECRETÁRIA – (off) Dona Lúcia, como que a senhora entrou ai tão rápido?
LÚCIA – Tá maluca, eu nem sai daqui. Manda ela entrar logo.
SECRETÁRIA – (off) Ela não tá aqui, dona Lúcia. Acho que ela desistiu.
LÚCIA – Ah não pode ser. Ela tem um currículo tão interessante. Sabe onde ela foi?
SECRETÁRIA – (off) Eu perguntei aqui e disseram que ela pegou o elevador.
Lúcia desliga e sai da sala, correndo.
CENA 11/CASA DO XERIFE/SALA/INTERIOR/DIA:
Batem na porta. Bianca atende e Marilda entra segurando uma bandeja cheia de doces.
BIANCA – Eu consegui fazer o Victor andar Passos inteira atrás de um café especial. E ele achou e deve está voltando.
MARILDA – Eu não vou demorar, Bianca. Mas eu trouxe uns doces, come comigo?
BIANCA – Eu não posso, dona Marilda. Eu sou diabética.
MARILDA – Ah, por favor, é uma forma de agradecer e quase não tem açúcar aqui.
BIANCA – Sendo assim, eu vou aceitar apenas umzinho.
Elas sorriem. Bianca pega um e come. Marilda faz o mesmo.
CENA 12/PENSÃO MARTINS/SALA/INTERIOR/DIA:
Dalva surge no topo da escada segurando uma cesta de roupa. Ela desce uns degraus e escorrega no carrinho do Zequinha.
Ela rola pela escada e quando chega ao chão, bate com a cabeça e desmaia.
CENA 13/CASA DO XERIFE/SALA/INTERIOR/DIA:
Bianca está sentada no sofá com a Marilda. Bianca come um doce e Marilda a observa.
BIANCA – Eu não deveria comer um, e muito menos quatro, mas está tão bom.
MARILDA – Eu sei, receita da minha avó. Ela também era diabética, mas sempre comia um docinho.
BIANCA – E como ela conseguia fazer algo tão bom e quase sem açúcar.
MARILDA – Pois é, segredos de avó. Ela nunca me contou, nem mesmo pra minha mãe.
Bianca pega mais um pedaço e começa a tossir. Ela encara a Marilda, aflita.
BIANCA – (tosse) Pega o meu remédio, por favor. Acho que passei da conta.
MARILDA – Eu acho que não.
Bianca larga o doce e começa cuspir. Marilda ri. A vilã pega o gravador e encara a Bianca.
MARILDA – Você tinha razão, não tem açúcar aí, mas veneno…
Marilda manda um beijo pra ela e sai. Bianca respira fundo e cai no chão. Ela tosse mais e para.
CENA 14/SEDE DA MUJER/ELEVADOR/INTERIOR/DIA:
Laura entra no elevador, bebendo água. Instante. A porta abre e Lúcia entra. Elas se encaram.
LAURA – Quem é você?
LÚCIA – Eu é que pergunto: quem é você?