Linha de Sangue | Primeiro Capítulo | Estreia

Linha de Sangue_AATV

|“Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade”.

| SINOPSE – Conta a trajetória das gêmeas Laura e Lúcia. As irmãs foram separadas ainda bebês. Laura ficou com a mãe biológica e Lúcia foi adotada por uma velha senhora.

Quando a velha senhora morre misteriosamente, a Lúcia passa aos cuidados da vizinha, a Marilda. E ainda recebe a notícia que vai receber uma herança.
Alguns anos depois… A mãe biológica das gêmeas morre, mas antes ela diz a Laura que a Lúcia está viva e indo pra São Paulo. Lúcia e Marilda vão pra São Paulo abrir a revista Mujer com o dinheiro da herança.
Quando elas finalmente se reencontram, Marilda fará de tudo para afastá-las por um único motivo: dinheiro!

CENA 01. MARGEM DO RIO DO SÃO FRANCISCO. EXTERIOR. DIA:

LEGENDA: Alagoas, 1997

♪ Cordeiro de Nanã – Thalma de Freitas 

DÉBORA (baixa, branca e usa roupas surradas) caminha até a margem segurando dois bebês no colo. Ela se senta na areia e beija as duas. Débora pega uma cesta que estava ao seu lado e põe um dos bebês dentro.

DÉBORA – Perdoe-me por não ser perfeita. Eu não vou conseguir criar as duas e eu preciso fazer uma escolha. Não quero que filha minha passe fome… E eu sei que você pode morrer nesse trajeto, mas estarei rezando pra que um pescador lhe pegue.

Ela beija novamente o bebê que estava na cesta e empurra o objeto Rio a baixo. Ela levanta e sai andando com o segundo bebê.

CENA 02. CASEBRE. INTERIOR. DIA:

Sonoplastia continua

Débora entra segurando a criança e caminha até o tanque. Ela bota a criança no tanque e começa a lavá-la.

DÉBORA – Não se preocupe minha linda. Eu tenho certeza absoluta que tudo vai dá certo… Pode demorar, mas tem certeza que tudo vai dá certo.

Débora continua lavando a criança e começa a cantarolar junto à sonoplastia. Enquanto lava, ela beija a criança.

CENA 03. RIO SÃO FRANCISCO. EXTERIOR. DIA:

LEGENDA: Minas Gerais, dias depois

Sonoplastia continua

A cesta (cena 01) segue ‘correndo’ pelo Rio. Um barco vai se aproximando e ELVIRA (baixa, branca e usa roupas de pescador) a pega. Ela pega a criança e a olha.

ELVIRA – (assustada) Meu deus! Quem foi o doente capaz de pôr uma criança dentro de um Rio pra morrer?

Ela entra a cesta pro homem que a acompanhava e abraça o bebê.

ELVIRA – Tudo vai dá certo minha linda.

CENA 04. CASA DA MARILDA. SALA. INTERIOR. DIA:

Music fade// MARILDA (alta, branca e usa roupas estampadas) anda ao redor de um homem que está deitado no chão. Ele chora. Ela segura um pedaço de pau.

MARILDA – Finalmente o dia de glória chegou. Eu estou me livrando de você! Oh meu Deus, como isso demorou.

HOMEM – (choroso) Porque você está fazendo isso?

MARILDA – Sério mesmo que você ainda não percebeu? Ok, eu conto. Meu pai me obrigou a se casar com você e você só serviu pra me deixar livre dele. E agora estou me livrando de você.

HOMEM – (limpa as lagrimas) Isso não é motivo!

MARILDA – Estou sem paciência hoje, Pedro. Diga adeus ao mundo.

Ela ergue o pedaço de pau que desponta um prego e começa a batê-lo na cabeça do Pedro. Ela bate duas vezes e olha pra ele.

MARILDA – É frouxo até pra morrer. Que morte fácil e rápida… Agora como eu vou me livrar dessa merda? Pensa, Marilda, pensa. Pensei!

Ela se senta no sofá e pega o telefone, disca os números e bota no ouvido.

MARILDA – (força um choro) Eu preciso da sua ajuda. Eu fiz merda! Por favor, venha rápido… Ele, ele… Eu não queria fazer isso.

Ela desliga e deita no sofá.

CENA 05. ESTRADA DE TERRA. EXTERIOR. DIA:

Um carro para frente a outro. Elvira sai do carro segurando o bebê. Ela se aproxima do outro carro e um homem (alto, branco e usando terno) sai dele segurando uma mala.

ELVIRA – Quantos meses fazem? Você esqueceu de mim, Gael. Achei que fosse me deixar. Não esqueça que sou sua melhor cliente.

GAEL – Eu sei disso, mas não tenho culpa que você mora nesse fim de mundo. E que criança é essa?

ELVIRA – Minha mais nova filha. Mas eu não estou aqui pra falar sobre ela. Eu quero o meu negócio.

GAEL – (entrega a mala) Ela não pode ser sua filha… Quer dizer, na sua idade, é impossível! Adotou? Qual é o nome dela?

ELVIRA – Foi parecido com uma adoção sim. E o nome dela é Lúcia… (firme) Lúcia Moreira! E adeus, Gael.

Ela manda um beijo e entra no carro com a Lúcia e com a mala. Ele sorri e entra no dele. Os dois carros saem cantando pneu.

CENA 06. CASA DA MARILDA. FRENTE. EXTERIOR. DIA:

Marilda está sentada no meio-fio. Uma caminhonete para frente a ela e dela sai um homem (alto, moreno, usando roupas de xerife) e se aproxima da Marilda.

MARILDA – Eu não sabia o que fazer. Ele chegou com um pedaço de pau e me ameaçou. Eu tive que fazer…

XERIFE – Você o matou, Marilda? Isso é assassinato! Ele não te agrediu, certo? Só ameaçou.

MARILDA – E eu sei que não deveria ter ido tão longe. Eu deveria ter parado. Eu sei! Mas quando ele me ameaçou, eu só pensei no pior e agi.

XERIFE – Eu vou dá um jeito, Marilda. Cadê o corpo?

Top Top – Cássia Eller 

Marilda levanta e entra na casa com ele. FADE OUT/FADE IN. O xerife sai da casa segurando o corpo enrolado num tapete. Ele bota o tapete na traseira da caminhonete e entra no carro, e sai cantando pneu.

CENA 07. CASA DA MARILDA. SALA. INTERIOR. DIA:

Sonoplastia continua

Marilda fecha a porta e começa a gargalhar. Ela senta no sofá e começa a cantar alguns versos da música ‘Sabotagem’

MARILDA – (cantarola) Eu vou sabotar, vou casar com ele. Eu vou trepar na escada! (ri) Agora eu estou livre!

Elvira entra na casa segurando a Lúcia. Ela se aproxima da Marilda que a encara. Music fade//

MARILDA – (assustada) Que merda é essa, Elvira?

ELVIRA – Desculpa ter entrado assim, é que…

MARILDA – (corta) Não é isso, querida. É essa criatura, quem é?

ELVIRA – Eu a achei boiando no meio do Rio enquanto eu pescava. Eu quero cuidar dela, mas se eu disser onde achei, eles vão tirar ela de mim.

MARILDA – O que seria de você sem mim? Eu conheço alguém que pode nos ajudar e pelo amor, não vá querer dá uma de mãe solitária e sair adotando um monte de criança.

ELVIRA – Não se preocupe. E o traste do seu marido?

MARILDA – Ele foi embora com uma quenga. Deixou um bilhetinho e se foi. Filho da puta! Tomará que ela passe alguma doença pra ele.

ELVIRA – Ele não te merece amiga, mas eu sei de alguém que te queira e muito: o xerife. Ele está apaixonado!

MARILDA – (se benze) Cruzes!

Elvira sorri e sai. Marilda vai atrás, fechando a porta.

CENA 08. CÓRREGO. EXTERIOR. DIA:

A caminhonete para frente ao córrego. O xerife sai do carro e pega o corpo da traseira. Ele bota no tapete no chão e o empurra córrego a baixo.

CENA 09. LAVOURA. EXTERIOR. DIA:

LEGENDA: Alagoas, 2007

Débora, mais velha, corta os pés de cana-de-açúcar e os põe no ombro. Uma menina de 10 anos se aproxima dela.

DÉBORA – Estou quase acabando aqui, Laura e nós já vamos.

LAURA – Se eu te fizer uma pergunta, promete não ficar brava?

DÉBORA – Fala logo.

LAURA – Onde a minha irmã está? Eu lembro de você me mostrar uma foto dela ainda bebê. Ela era parecida comigo.

DÉBORA – Ela morreu, Laura e eu já lhe disse isso.

LAURA – Não! Você disse que botou ela no Rio e não que a matou.

DÉBORA – Foi a mesma coisa que matá-la. Agora vamos e chega de me perguntar sobre ela. Esquece-a!

Débora vai na frente e Laura vai atrás, cabisbaixa.

CENA 10. CEMITÉRIO. INTERIOR. DIA:

LEGENDA: Minas Gerais

Marilda, mais velha, está ao lado de uma menina de 10 anos. Ambas jogam rosas sob o túmulo da Elvira. Elas se abraçam e a menina chora.

MARILDA – Não fique assim, Lúcia. Eu vou cuidar de você e se você quiser, pode me chamar de mamãe daqui pra frente.

LÚCIA – Obrigada, mamãe.

Elas saem abraçadas.

CENA 11. CASA DA MARILDA. SALA. INTERIOR. DIA:

Lúcia e Marilda estão sentadas no sofá frente a um homem (alto, negro e usando terno). Ele entrega a Marilda um papel.

HOMEM – Esse papel é o testamento da Elvira e nele está todas as suas vontades. E ainda diz que a Lúcia receberá a sua herança quando ela completar dezoito anos.

MARILDA – Isso é impossível! A Elvira era tão pobre quanto eu. Ela não pode ter dinheiro para dá a Lúcia.

HOMEM – Então eu acho que ela mentiu pra vocês todo esse tempo.

MARILDA – Quanto é essa quantia? Imagino que seja uns cem mil reais.

HOMEM – Um pouquinho a mais: um milhão e meio de dólares.

CLOSE na Marilda, sorrindo.

CENA 12. CASA DA MARILDA. QUARTO DA MARILDA. INTERIOR. DIA:

Marilda entra no quarto, sorrindo. Ela senta na cama e fica frente ao espelho. Ela passa a mão pelos cabelos e ri.

MARILDA – Eu não acredito que Deus foi tão bom comigo. Um milhão de dólares… Eu tô rica! Eu sou rica!

Ela levanta as mãos e sorri.

FIM DO CAPÍTULO

| Linha de Sangue – Seg à Sex – 21h15 

18s17s

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